abril 12, 2009

histórias: a nossa e aquela com H (conversa entre amigas, por email)

A. L.:

Depois de uma semana inteira trabalhando o dia todo (exceto na 3ª, quando fui à Ericeira), resolvi me proporcionar um sábado agradável e ir a Queluz - lugar que tem pra mim um forte significado afetivo, porque em tempos (quando morava ali perto) era onde ia com o J. num restaurantezinho muito simpático, com gente simpática, comida boa e tranquilo, sem zorra. Era um recanto nosso para conversar e usufruir da nossa, além de tudo, grande amizade. Temos vindo a perder esse espaço, embora a amizade tenha se fortalecido cada vez mais com os anos.

Mas enfim, o brilho de Queluz não é só por isso. É pela presença do Palácio de Queluz, residência de todos aqueles personagens da história portuguesa e nossa. Lembro da primeira vez que fui lá... fiquei olhando demoradamente o quarto de D. Pedro I... pra ver se conseguia encaixar na minha cabeça que ele não tinha sido ficção - que é como muitas vezes, inevitavelmente, acabamos por sentir os persongens da história, mais próxima ou não. Olhava os corredores, pensando que tinham passado pelos mesmos locais a tal Carlota Joaquina, D. João VI, D. Maria, e tantos outros vivos naquele tempo, mas mortais como nós. Entrar nesses lugares confunde a minha percepção do tempo - o passado no presente, o presente no passado - e eu gosto dessa sensação...

S. S.:

Entendo essa sua sensação ao pisar locais que foram pisados por personagens históricos - é como se fosse preciso isso para se convencer de que existiram mesmo. Lembro de que, depois de dois anos pesquisando intensamente, fui a Goiás buscar detalhes que me faltavam. Só assim pude sentir de fato como foi uma aventura grandiosa enfrentar aqueles ermos. Em certos lugares eu dizia: é mesmo, ele pisou aqui. Sinto falta de um lugar no Brasil onde eu possa sentir Leopoldina. A atual Quinta da Boa Vista não é o lugar em que ela viveu, e sim uma construção posterior, durante o reinado de Pedro II. Tenho muita vontade de ir a Viena para pisar os lugares em que ela nasceu e cresceu, mas sei que não há nada ali que a lembre, nem mesmo um retrato. Mas até essa ausência é eloqüente - Leopoldina é aquela que a História e o mundo esqueceram (em algumas genealogias ela nem é citada entre os filhos de Francisco I) e só aos poucos, e muito recentemente, vem sendo ressuscitada. Me faz sentir ainda mais a solidão dolorosa em que ela viveu.