abril 30, 2012

em franjas



Nesses últimos tempos, quem dera eu soubesse tocar um instrumento. Acho que não um violoncelo, que apuraria o ruim ainda mais, para pior. Porque o violoncelo, mesmo vibrante, tem sempre um timbre melancólico. Não, não, um violoncelo não me faria bem.  Já o contrabaixo, mesmo sendo cordas (porque toda a situação exige cordas), seria para outra ocasião.
Mas talvez um violino, rascante, aflito, com nervos, aos gritos. Com certeza arrebentariam as cordas: as cordas não resistiriam ao que eu exigiria delas. Nem os vizinhos, que me viriam bater à porta e dizer "pare!". E eu não saberia o que responder. Talvez dissesse: "mas preciso!"
Esses dias têm sido assim: "cordas" em franjas. Mas que só eu ouço.



(foto de João Amaro)

abril 17, 2012

asa branca



Quando olhei a terra ardendo
Com a fogueira de São João
Eu preguntei, a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação
Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de prantação
Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Inté mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
Entonce eu disse adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
Hoje longe muitas légua
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim vortá pro meu sertão
Quando o verde dos teus oios
Se espaiar na prantação
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu vortarei, viu
Meu coração

Asa-Branca é uma canção de choro regional (popularmente conhecido como baião) de autoria da dupla Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, composta em 3 de março de1947.

abril 05, 2012

perto do coração selvagem

Sua felicidade aumentou, reuniu-se na garganta como um saco de ar. Mas agora era uma alegria séria, sem vontade de rir. Era uma alegria quase de chorar, meu Deus.


Clarice Lispector 
Perto do coração selvagem