novembro 20, 2013

Good night my angel...

 Goodnight my angel, time to close your eyes
And save these questions for another day
I think I know what you've been asking me
I think you know what I've been trying to say
I promised I would never leave you
And you should always know
Wherever you may go, no matter where you are
I never will be far away

Goodnight my angel, now it's time to sleep
And still so many things I want to say
Remember all the songs you sang for me
When we went sailing on an emerald bay
And like a boat out on the ocean
I'm rocking you to sleep
The water's dark and deep, inside this ancient heart
You'll always be a part of me

Goodnight my angel, now it's time to dream
And dream how wonderful our life has been
Someday we all must go
But lullabies go on and on
They never die
Just like you and I will be


(Lullabye - Billy Joel)



novembro 11, 2013

no Rio

Ando muito esquisita. Hoje nem foi por causa das Cagarras que vi ao anoitecer, no meio de uma névoa morna. Podia ter sido, sim, esse o motivo para que aflorasse mais qualquer coisa em mim, dado que toda a paisagem estava uma beleza.
Mas o que eu não esperava era chegar ao Largo do Machado e encontrar uma plateia (quase toda da minha geração ou pouco mais) cantando Vinicius: "É melhor ser alegre que ser triste..." (tenho que me lembrar disso). Havia lá um palco com quatro ou cinto cantoras fazendo bonito, muito bem mesmo, e aquela gente sabia toda a letra de cor e acompanhava direitinho o compasso. Enfim, todo aquele conjunto das pessoas com a música, e o estar ali, sei lá... Só sei que tratei de me vir logo embora, ou subiria a rua das Laranjeiras com o peito num nó.


outubro 25, 2013

brincando com o nome dele



Não sendo Janeiro
muito embora no Rio,
não interessa Lisboa.
Queria mesmo era estar
em João, aquela Pessoa.

agosto 22, 2013

lua bonita na voz de Raul Seixas



Lua bonita,
Se tu não fosses casada
Eu preparava uma escada
Pra ir no céu te buscar
Se tu colasses teu frio com meu calor
Eu pedia a Nosso Senhor
Pra contigo me casar
Lua bonita
Me faz aborrecimento
Ver São Jorge no jumento
Pisando no teu clarão
Pra que casaste com um homem tão sisudo
Que come dorme faz tudo, dentro do seu coração?
Lua Bonita, Meu São Jorge é teu senhor,
E é por isso que ele "véve" pisando teu esplendor
Lua Bonita se tu ouvisses meus conselhos
Vai ouvir pois sou alheio,
Quem te fala é o meu amor
Deixa São Jorge no seu jubaio amontado
E vem cá para o meu lado
Pra gente viver sem dor.

Letra e música do compositor Zé do Norte.

abril 26, 2013

Jorge de Sena

A Morte, O Espaço, A Eternidade 
De morte natural nunca ninguém morreu.
Não foi para morrer que nós nascemos,
não foi só para a morte que dos tempos
chega até nós esse murmúrio cavo,
inconsolado, uivante, estertorado,
desde que anfíbios viemos a uma praia
e quadrumanos nos erguemos. Não.
Não foi para morrermos que falámos,
que descobrimos a ternura e o fogo,
e a pintura, a escrita, a doce música.
Não foi para morrer que nós sonhámos
ser imortais, ter alma, reviver,
ou que sonhámos deuses que por nós
fossem mais imortais que sonharíamos.
Não foi. Quando aceitamos como natural,
dentro da ordem das coisas ou dos anjos,
o inominável fim da nossa carne; quando
ante ele nos curvamos como se ele fora
inescapável fome de infinito; quando
vontade o imaginamos de outros deuses
que são rostos de um só; quando que a dor
é um erro humano a que na dor nos damos
porque de nós se perde algo nos outros, vamos
traindo esta ascensão, esta vitória, isto
que é ser-se humano, passo a passo, mais.
A morte é natural na natureza. Mas
nós somos o que nega a natureza. Somos
esse negar da espécie, esse negar do que
nos liga ainda ao Sol, à terra, às águas.
Para emergir nascemos. Contra tudo e além
de quanto seja o ser-se sempre o mesmo
que nasce e morre, nasce e morre, acaba
como uma espécie extinta de outras eras.
Para emergirmos livres foi que a morte
nos deu um medo que é nosso destino.
Tudo se fez para escapar-lhe, tudo
se imaginou para iludi-la, tudo
até coragem, desapego, amor,
tudo para que a morte fosse natural.
Não é. Como, se o fôra, há tantos milhões de anos
a conhecemos, a sofremos, a vivemos,
e mesmo assassinando a não queremos?
Como nunca ninguém a recebeu
senão cansado de viver? Como a ninguém
sequer é concebível para quem lhe seja
um ente amado, um ser diverso, um corpo
que mais amamos que a nós próprios? Como
será que os animais, junto de nós,
a mostram na amargura de um olhar
que lânguido esmorece rebelado?
E desde sempre se morreu. Que prova?
Morrem os astros, porque acabam. Morre
tudo o que acaba, diz-se. Mas que prova?
Só prova que se morre de universo pouco,
do pouco de universo conquistado.
Não há limites para a Vida. Não
aquela que de um salto se formou
lá onde um dia alguns cristais comeram;
nem bem aquela que, animal ou planta,
foi sendo pelo mundo este morrer constante
de vidas que outras vidas alimentam
para que novas vidas surjam que
como primárias células se absorvam.
A Vida Humana, sim, a respirada,
suada, segregada, circulada,
a que é excremento e sangue, a que é semente
e é gozo e é dor e pele que palpita
ligeiramente fria sob ardentes dedos.
Não há limites para ela. É uma injustiça
que sempre se morresse, quando agora
de tanto que matava se não morre.
É o pouco de universo a que se agarram,
para morrer, os que possuem tudo.
O pouco que não basta e que nos mata,
quando como ele a Vida não se amplia,
e é como a pele do ónagro, que se encolhe,
retráctil e submissa, conformada.
É uma injustiça a morte. É cobardia
que alguém a aceite resignadamente.
O estado natural é complacência eterna,
é uma traição ao medo por que somos,
áquilo que nos cabe: ser o espírito
sempre mais vasto do Universo infindo.
O Sol, a Via Láctea, as nebulosas,
teremos e veremos até que
a Vida seja de imortais que somos
no instante em que da morte nos soltamos.
A Morte é deste mundo em que o pecado,
a queda, a falta originária, o mal
é aceitar seja o que for, rendidos.
E Deus não quer que nós, nenhum de nós,
nenhum aceite nada. Ele espera,
como um juiz na meta da corrida
torcendo as mãos de desespero e angústia,
porque nada pode fazer nada e vê
que os corredores desistem, se acomodam,
ou vão tombar exaustos no caminho.
De nós se acresce ele mesmo que será
o espírito que formos, o saber e a força.
Não é nos braços dele que repousamos,
mas ele se encontrará nos nossos braços
quando chegarmos mais além do que ele.
Não nos aguarda – a mim, a ti, a quem amaste,
a quem te amou, a quem te deu o ser –
não nos aguarda, não. Por cada morte
a que nos entregamos ele se vê roubado,
roído pelos ratos do demónio,
o homem natural que aceita a morte,
a natureza que de morte é feita.
Quando a hora chegar em que já tudo
na terra foi humano — carne e sangue —,
não haverá quem sopre nas trombetas
clamando o globo a um corpo só, informe,
um só desejo, um só amor, um sexo.
Fechados sobre a terra, ela nos sendo
e sendo ela nós todos, a ressurreição
é morte desse Deus que nos espera
para espírito seu e carne do Universo.
Para emergir nascemos. O pavor nos traça
este destino claramente visto:
podem os mundos acabar, que a Vida,
voando nos espaços, outros mundos,
há-de encontrar em que se continui.
E, quando o infinito não mais fosse,
e o encontro houvesse de um limite dele,
a Vida com seus punhos levá-lo-á na frente,
para que em Espaço caiba a Eternidade.

abril 23, 2013

tantas palavras

Tantas palavras
Que eu conhecia
Só por ouvir falar, falar
Tantas palavras
Que ela gostava
E repetia
Só por gostar

Não tinham tradução
Mas combinavam bem
Toda sessão ela virava uma atriz
Give me a kiss, darling
Play it again
Trocamos confissões, sons
No cinema, dublando as paixões
Movendo as bocas
Com palavras ocas
Ou fora de si
Minha boca
Sem que eu compreendesse
Falou
c'est fini
C'est fini
Tantas palavras
Que eu conhecia
E já não falo mais, jamais
Quantas palavras
Que ela adorava
Saíram de cartaz

Nós aprendemos
Palavras duras
Como dizer perdi, perdi
Palavras tontas
Nossas palavras
Quem falou não está mais aqui






abril 18, 2013

A Maçã no Escuro

«O passarinho negro estava pousado num ramo abaixo, à altura de seus olhos. E impedido de voar pelo olhar abrutalhado do homem, mexia-se cada vez menos à vontade, tentando não encarar o que estava para lhe acontecer, alternando nervosamente o apoio do corpo numa ou noutra pata. Assim os dois ficaram se defrontando. Até que com a mão pesada e potente o homem pegou-o sem machucá-lo, com a bondade física que tem uma mão pesada.
O pássaro tremia todo na concha da mão sem ousar piar. O homem olhou com uma curiosidade grosseira e indiscreta a coisa na sua mão como se tivesse aprisionado um punhado de asas vivas. Aos poucos o pequeno corpo dominado deixou de tremer e os olhos miúdos se fecharam com uma doçura de fêmea. Agora, contra os dedos extremamente auditivos do homem, somente a batida diminuta e célere do coração indicou que a ave não morrera e que o aconhego a resignara enfim a descansar.
(...)
O homem olhou dócil o passarinho. Sem comando próprio, seus dedos agora inocentes e curiosos deixaram-se obedecer aos movimentos extremamente vivos da ave, e abriram-se inertes: o pássaro voou numa faísca de ouro como se o homem o tivesse lançado.(...) Quando o homem enfim ergueu os olhos, o passarinho perturbado o esperava como se só tivesse lutado porque pretendia ceder. Martim estendeu a mão ferida e pegou-o com firmeza sem esforço. Dessa vez a ave agitou-se menos e, reconhecendo o antigo abrigo, acomodou-se para adormecer. Com o leve peso a carregar, o homem continuou sua marcha entre pedras.»

(passagem do livro A Maçã no Escuro, de Clarice Lispector)

fevereiro 23, 2013

Cantuária que gosto tanto de ouvir - para o Miguel Innersmile


ontem no Arpoador

Ontem era noite. Arpoador com Vic e Ricardo pra comer um bobó que valeu. Depois fomos molhar os pés no mar e aproveitei pra cumprimentar o Atlântico do lado de cá. 'Lá' ele é frio. Cá é morno. Por um supremo bom gosto do acaso, encontrámos Lili e Fábio. Gritámos todos, surpreendidos. Não sei explicar o que sentia ali com tudo aquilo e todos e aquele ar morno cheirando a maresia. Rimos muito. Lembranças remotas acordaram todas. Depois seguimos e atravessámos as ruas para uma breve esticada ali naquele bar. No caminho, restos, ainda, do carnaval. Ontem lavei pés e alma.

janeiro 20, 2013

Lisboa. Inverno de 1954.


(foto tirada de https://www.facebook.com/LISBOALive.PT)

pelo tempo chamado Outono

Pelo tempo chamado do Outono,
quando a beleza é mais oculta e calma
e na face das coisas pesa o sono
das águas do desejo, fecho a alma
e fico sem estrelas e sem nome.
Humilde, vou tecendo meu destino
futuro de palavras e de fome.
Nesse tempo do Outono meu latino
esplendor é uma cinza paciente.
Meu espírito, um lago verde. Quente,
porém, a gota que leveda ao fundo
do silêncio. Depois serei o Dia,
e com poemas e sangue e alegria
nascerei, incontido, sobre o mundo!...

 



in 'Poesia MCMLVIII' [Pastinhas da Queima das Fitas], org. Campos de Figueiredo, Coimbra, 1958.