abril 04, 2014

fazer a própria massa

©Analu Prestes

Sempre tinha sido assim. Há muito esperava que o futuro trouxesse a chave para a sua própria charada (houve tempos em que sim, que teve quase a certeza de ter à mão todas as respostas, mas depois... não... ainda não); uma questão de tempo e paciência, capacidade de espera — o que decididamente não tinha. E tudo isso desembocava ora em turbilhão, ora em passividade expectante. Não era possível que toda aquela vida que projetara não passasse de um clichê e mais nada.

Agora lembrava-se desse tempo: ah se então tivesse sabido — (...)
Porque depois houve, sim, todos aqueles anos — enfim! Os tempos por que tanto ansiara. Foram dias de promessa, sem dúvida; e de grande risco, mas um risco menor diante da sua certeza que vinha não sabia de onde: os dias chegaram, os dias por que esperara quase uma eternidade.

O que resultaria de tudo aquilo, (...) não o sabia nem pensava nisso. Sentia que todas as suas forças até então dissipadas e dispersas se reuniam numa única força, e com uma terrível energia se orientavam para um objetivo ditoso.

Mas. Soube então que tinha direito a uma fração, apenas; desta única fração teria de criar a substância toda. Viveria sob um novo enigma, e com este teria de buscar o sentido. Fazer a massa de si própria.

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