dezembro 21, 2008

diário 1

Lisboa. Sábado. Dia ensolarado, céu muito azul. Está menos frio agora, embora ontem e anteontem eu tenha quase congelado: 7º, 8º 9º graus, com vento, o que aumenta muito a sensação de frio. Por sorte é um frio seco, que faz bem e dá boa diposição: apetece caminhar, e mesmo alguns quilômetros não cansam.
Leio (não vi o filme) "A Morte em Veneza", editado pela Relógio D'Água, Junho de 2004. Lá à minha maneira, vou viajando pelos livros, caótica, lendo dois ou três simultânea e lentamente. Leio este sobretudo porque li "Cartas de Veneza", do Robert Dessaix, e um me levou ao outro. Acho que, pela primeira vez - e talvez só agora o tenha percebido - tenho a sensação de "precisar de um autor". Nunca senti isso antes, sempre fui dispersa. Mas agora dei pra 'precisar de ler coisas que alguém sente-pensa-escreve de um modo em particular'. É claro que em breve vou reler "Cartas de Veneza". Como quero ler-reler outros livros dele, e de outros. Bom, todo esse blá-blá-blá pra dizer que estou me deliciando com "A Morte em Veneza", cuja leitura, por sua vez, vai me estimulando em tantas e tantas outras direcções, sobre as quais talvez eu venha a falar aqui.
Pra finalizar, por hoje, deixo uma pequena parte do que li, que fala de Veneza, mas não só de Veneza: "Era o trajecto que tão bem conhecia, pela lagoa, passando por San Marco, grande canal acima. Aschenbach estava sentado no banco circular da proa, o braço apoiado na amurada, a mão cobrindo os olhos. Os jardins públicos ficaram para trás, a piazzetta mostrou-se uma vez mais com graça principesca e para trás ficou, seguiu-se a linha de fuga dos palacetes, e quando a estrada de água desenhou a curva do canal, surgiu o magnífico arco de mármore do Rialto. O viajante olhava, peito rasgado. A atmosfera da cidade, este vago cheiro infecto de mar e pântano, que o impelira a fugir tão precipitadamente - respirava-o agora profundamente, suavemente, dolorosamente. Seria possível que não soubesse, que houvesse esquecido, o quanto o seu coração dependia de tudo isto?"

Lisboa, 19/2/05

Nenhum comentário:

Postar um comentário