dezembro 21, 2008

partir


Estar fora, vivendo longe da nossa casa, é uma experiência muito pessoal. Pode envolver circunstâncias variadas, e suscitar em cada um sentimentos muito diversos, mais, ou menos, felizes. No meu caso, tenho o tempo todo escrito no peito, como aquelas frases nas t-shirts: «estou fora de casa». Não é que seja bom, nem que seja mau. É outra coisa, diferente, que escapa ao simples bom, ao simples mau. Então li algo interessante, que fez sentido com essa sensação 'diferente' que não sei explicar bem, com a minha experiência particular, e que gostaria de contar porque é algo que, mesmo tão presente, pouco tenho compartilhado. Lembrei disso agora porque, hoje, almoçando sozinha, distraía-me a ler a agenda com o diário da viagem a Praga.


No avião, de volta pra casa, sempre com o livro do P. Auster como companhia. Não consigo largar 'A Noite do Oráculo'. Meus olhos ardem de cansaço mas não consigo parar de ler, e até vou fazendo umas anotações na margem. Leio. «(...) B. não põe em causa aquilo que está a fazer. É uma atitude que pouco ou nada tem de generoso ou admirável, mas B. é um homem arrebatado por uma idéia, e essa idéia é tão imensa, (...) que ele sente que não tem outra saída senão obedecer-lhe - mesmo correndo o risco de agir de um modo irresponsável, de fazer coisas que, um dia antes (...). Sabia que não voltaria a ter paz enquanto não se ajustasse a este novo lampejo de vida. (...) E de que modo? De um modo muito simples: partiria.»


Lisboa, 09/11/06


imagem: quadro de Edward Hopper, Rooms by the sea

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