dezembro 21, 2008

eu nunca tinha visto o meu coração


Mas vi-o hoje.
Há muitos anos soube que tenho uma levíssima alteração na válvula mitral do coração. Não sinto nada, mas de tempos em tempos o médico me pede um exame só pra ver se continua tudo bem. Hoje foi um desses dias. Passei no Centro de Saúde e o médico me pediu para fazer um ecocardiograma na clínica do Dr. Castanheira - e lá fui eu.
Como havia vaga, esperei um pouco e logo fui chamada.
Seguindo a orientação dada, tirei a blusa e, deitada, virei-me para a esquerda, enquanto o médico fazia pressão sobre o local do exame. Observei então, pelo reflexo numa chapa de acrílico junto à parede, próxima ao meu rosto, as imagens que apareciam na tela atrás de mim. E com som.
Pois o óbvio me surpreendeu. Ouvia os batimentos e via na tela todo o movimento do coração. Mas o que me impressionou foi que, numa determinada posição do aparelho, eu via como que uma explosão vinda de dentro do coração, um fogo, uma chama que, com a sua força vital, distendia as paredes da válvula, num movimento ritmado. De repente, foi como se "caísse a ficha": é isso, é essa chama que me mantém, que nos mantém.
Olhem que não sou religiosa, embora admita o mistério. Mas naquele momento pensei, com uma emoção diferente, no enigma de tudo isso.
Acho que nunca vou me esquecer daquelas imagens e sensações. É claro que já vi na tv vários documentários sobre cirurgia cardíaca, etc. Mas não há nada como ver "a nossa própria máquina"! Divina?

Cascais, 03/4/07


imagem: quadro de Beatriz Milhazes

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