dezembro 21, 2008

novamente outono


Venta. Muito. Tive de ir à rua, ao banco, ao mercado, e era uma luta caminhar contra o vento, que me empurrava na direção contrária. Um cheiro forte e bom de resina vinha dos galhos e pequenos frutos arrancados dos pinheiros e espalhados pelo chão. Poucas pessoas nas calçadas. Todos com certeza metidos em algum lugar, evitando o incômodo daquela força invisível contra a qual não há nada a fazer. A natureza age e é assim. É ter paciência até que ela se acalme.
Chego a casa e a porta entreaberta da varanda deixou entrar folhas soltas, expulsas das árvores. Deixou entrar terra e pó. E o ruído, que me faz sentir ameaçada de algum modo, impede que eu me concentre inteira no trabalho com o prazo no limite. De vez em quando vêm uns estrondos lá de fora, que não sei distinguir; como se algo desmoronasse. Me assusto.
Se o vento entrar pela noite, já sei que vou demorar a dormir. De madrugada ele traz presságios e me deixa inquieta. Tira a solidez e constância das coisas. Abala o mundo onde, iludida, me deixo estar segura.
Um amigo, para me acalmar, me diz que o Outono aqui é sempre assim; e que por ser sempre assim, o vento, pra ele, é bem-vindo; confirma os ciclos a que está acostumado. Faz parte do seu mundo, do mundo onde ele se sente seguro.
Bem ao contrário de mim.

Cascais, 28/10/08

Nenhum comentário:

Postar um comentário